Indígenas bloqueiam rodovia para reivindicar soltura de cacique preso suspeito de portar armas e munições na Bahia
07/07/2025
(Foto: Reprodução) Welington Ribeiro de Oliveira, o cacique Suruí Pataxó, foi detido em uma ação da Força Nacional de Segurança, no território indígena de Barra Velha, zona de tensão agrária localizada em Porto Seguro. Indígenas protestam em rodovia do extremo sul do estado contra prisão de cacique
Cerca de 30 indígenas protestaram e bloquearam a BR-101, em Itamaraju, no extremo sul da Bahia, nesta segunda-feira (7). O objetivo da ação é reivindicar a soltura de Welington Ribeiro de Oliveira, o cacique Suruí Pataxó, em uma ação da Força Nacional de Segurança.
Ele e outras duas pessoas foram presas na última quarta (2), pela Polícia Federal (PF), após agentes flagrarem o grupo com armas no território indígena de Barra Velha, zona de tensão agrária localizada em Porto Seguro. A Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espirito Santo (Apoinme), que representa o grupo repudiou o ato. A entidade afirma que o cacique sofre ameaças de morte há anos, é defensor de direitos humanos e foi preso injustamente.
📲 Clique aqui e siga o perfil do g1 Bahia no Instagram
Por volta das 8h30, o grupo interditou totalmente o trecho da rodovia, nas proximidades do trevo de Itamaraju, próximo à entrada do Parque Nacional Monte Pascoal. Até as 19h desta segunda, o protesto não havia terminado.
Na sexta-feira (4), os manifestantes também bloquearam a via para reivindicar a soltura de Welington Ribeiro e pela assinatura da Portaria Declaratória da Terra Indígena Barra Velha de Monte Pascoal.
Indígenas bloqueiam BR-101, em Itamaraju, para reivindicar soltura de cacique preso em ação da Força Nacional de Segurança Pública
Arquivo pessoal
"Este ato é mais uma demonstração da força e da resistência do Povo Pataxó diante da violência institucionalizada e do descaso do Estado brasileiro. A criminalização das lideranças indígenas é uma estratégia histórica para tentar silenciar as vozes e travar a luta por direitos constitucionais, como a demarcação das terras", disse a Articulação dos Povos e Organizações Indígenas, por meio de nota.
Conforme a Apoinme, o cacique, Suruí Pataxó sofre ameaças de morte há anos, é defensor de direitos humanos e foi preso injustamente.
Segundo a organização indígena, uma mulher tentou furar o bloqueio da rodovia e avançou seu caminhão contra os manifestantes. A PRF não informou se a motorista foi detida.
Grupo intercepta agentes da Força Nacional de Segurança e solta homens flagrados com armas em área de conflitos indígenas na BA
Welington Ribeiro de Oliveira, o cacique Suruí Pataxó, foi detido em uma ação da Força Nacional de Segurança
Reprodução/Redes Sociais
Em nota, o Conselho de Caciques do Território Indígena Barra Velha de Monte Pascoal manifestou, na sexta-feira, indignação e repúdio à ação que terminou com a prisão do cacique. Segundo a entidade, a abordagem foi conduzida sem mandado de prisão, com motivação "claramente política e persecutória", revelando objetivo de incriminar o cacique por ele ser uma "liderança ativa na luta pelos direitos dos povos indígenas".
"Isso evidencia a gravidade da criminalização do movimento indígena e da luta por direitos assegurados pela Constituição Federal de 1988 e por tratados internacionais, como a Convenção 169 da OIT", destacou o comunicado.
A nota denunciou também que os outros três presos são adolescentes e que eles e a liderança pataxó foram torturados física e psicologicamente durante deslocamento.
"Durante o trajeto, os policiais pararam o veículo diversas vezes na estrada, obrigando os detidos a descer, correr e se submeter a insultos e humilhações. O cacique foi chamado de 'falso cacique', teve sua identidade questionada e ouviu dos agentes que 'o cano da arma deles estava quente'", acusou o grupo em nota.
A organização diz que foram feitas cinco paradas durante o percurso, todas "marcadas por agressões verbais e ameaças", configurando "grave violação dos direitos humanos e desrespeito total à dignidade das lideranças indígenas e de seus jovens".
"O cacique Suruí está sendo punido por cumprir seu dever ancestral e constitucional de defender seu povo, seu território e seus direitos. Ele é símbolo de resistência e dignidade, e sua prisão atenta contra todos os povos originários do Brasil", defende.
Segundo informações da Polícia Rodoviária Federal (PRF), os indígenas também exigem remarcação de terras.
Grupo interditou totalmente o trecho da rodovia, nas proximidades do trevo de Itamaraju, próximo à entrada do Parque Nacional Monte Pascoal
Arquivo pessoal
O que diz o Ministério da Justiça e Segurança Pública
Em nota, o Ministério da Justiça e Segurança Pública confirmou os fatos citados e disse que a atuação da Força Nacional na região prioriza a preservação da vida, o respeito à cultura, aos direitos e à integridade dos povos originários.
Conforme o órgão, os agentes recebem treinamento específico para atuar em contextos de alta complexidade, com foco na resolução pacífica de conflitos e na proteção dos mais vulneráveis.
O Ministério da Justiça e Segurança Pública reforçou ainda o respeito à luta dos povos indígenas, afirmou que reconhece a importância das lideranças tradicionais e ressaltou que segue à disposição para o diálogo com todas as comunidades envolvidas.
Grupo é detido com armas e munições em área de conflitos indígenas na Bahia
Divulgação
Reforço policial
Os agentes da Força Nacional de Segurança Pública enviados pelo Governo Federal chegaram a Porto Seguro no dia 28 de abril. Segundo o Ministério da Justiça, o grupo permanecerá no município por 90 dias.
O anúncio da chegada dos agentes foi feito no dia 17 do mesmo mês, dois dias antes da data em que foi celebrado o Dia dos Povos Indígenas.
⚠️ A Força Nacional de Segurança Pública é um programa de cooperação de Segurança Pública brasileiro, coordenado pelo Ministério de Justiça e Segurança Pública. Ela é composta por policiais militares, bombeiros, policiais civis e peritos, e é acionada em situações de emergência.
Força Nacional chega ao extremo sul da Bahia
No dia 4 de abril, João Celestino Lima Filho, de 50 anos foi morto durante um conflito fundiário em uma fazenda na cidade de Prado, no extremo sul da Bahia. Segundo a polícia, 20 indígenas da Aldeia Reserva dos Quatis, pertencentes ao território Comexatibá, entraram na fazenda com o objetivo de retomar a área.
No mesmo período, um grupo de ocupou entrada do Parque Nacional do Descobrimento, também localizado na cidade de Prado. O grupo, que se identificou como juventude do Território Indígena Pataxó de Comexatibá, ficou cerca de 20 dias no local.
O objetivo era pedir a homologação da terra indígena Comexatibá, que é alvo de disputa judicial há alguns anos.
Fazenda onde indígena foi morto na Bahia
Arquivo Pessoal
Na nota enviada à imprensa na época da chegada do reforço policial no estado, o governo federal informou que a decisão de envio do grupo foi embasada na sugestão do Ministério da Justiça e Segurança Pública — corroborada pelo Ministério dos Povos Indígenas e pelo Movimento Unido dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia (Mupoiba).
Ainda segundo o governo, a Força Nacional atua especificamente em áreas de interesse e serviços da União, em regime de cooperação com as autoridades locais.
A gestão federal ainda informou que vai manter as ações regulares de policiamento na região do extremo sul e seguirá atuando com a Polícia Federal para manter a ordem pública.
LEIA TAMBÉM
Povos indígenas na Bahia: com mais de 10 etnias registradas, estado tem segunda maior população recenseada do Brasil
'Terras em Guerra': assista aos cinco episódios da série sobre os conflitos entre indígenas e produtores rurais da Bahia
Veja mais notícias do estado no g1 Bahia.
Assista aos vídeos do g1 e TV Bahia 💻